No quinto dia, ainda por causa da ovelha, foi-me revelado o seguinte segredo da vida do principezinho. Fez-me uma pergunta súbita, sem preâmbulos, como se fosse fruto de um problema meditado em silêncio durante longos dias:
- Se uma ovelha come arbustos, também pode comer flores?
- Uma ovelha come tudo o que encontra.
- Mesmo as flores que têm espinhos?
- Sim. Mesmo as flores que têm espinhos.
- Os espinhos não servem para nada, é pura maldade da parte das flores!
- Oh!
O principezinho ficou calado por um momento, depois atirou-me com uma pontinha de rancor:
- Não acredito. As flores são fracas. São ingénuas. Tranquilizam-se como podem. Julgam-se terríveis com os seus espinhos ...
- Conheço um planeta onde existe um senhor de tez escarlate. Nunca aspirou o perfume de uma flor. Nunca contemplou uma estrela. nunca amou ninguém.
- Se alguém gostar de uma flor da qual apenas existe um único exemplar em milhões e milhões de estrelas, isso bastará para que se sinta feliz quando as contempla. Diz para consigo:
"A minha flor está lá, em qualquer parte ..."
Não pôde dizer mais nada. Desatou subitamente a soluçar. Anoitecera. Larguei as ferramentas. Queria lá saber do martelo, do parafuso, da sede e da morte. Havia uma estrela, num planeta, o meu, a Terra, um principezinho a consolar. Tomei-o nos braços. Embalei-o. Dizia-lhe: "A flor que tu amas não corre perigo ... Vou desenhar um açaimo para a tua ovelha. Vou desenhar uma armadura para a tua flor ...
O Principezinho, Antoine de Saint-Exupéry
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