Sou o filho mais velho de um filho mais velho. Assim que nasci, fui retirado dos braços e do peito da minha mãe, pois eram considerados inadequados. Fui entregue ao berçário, a assistentes de enfermagem e ao leite em pó para bebés, um sistema considerado "mais moderno", mais apto a proteger a criança que iria assegurar a linhagem familiar. Chorei muito; calculo que à semelhança de todas as crianças, gostaria de estar nos braços da minha mãe, em vez de estar numa espécie de incubadora protegida por um vidro à prova de som.
A minha mãe tinha 22 anos quando me deu à luz. Apesar da sua inteligência e do seu caráter, era apenas uma criança comparada com o seu marido de 37 anos, diretor da revista noticiosa mais importante do país.
Pouco depois, a minha avó paterna decretou que a minha mãe não era suficientemente competente para cuidar do seu neto e fui entregue a uma ama interna.
A minha mãe sofreu muito com a separação. Lembra-se que os seus peitos vertiam leite durante a noite, quando era impedida de vir ter comigo.
Durante os anos que se seguiram nunca conseguimos sanar a nossa relação; houvera demasiado sofrimento e privações.
Não tardei a ter três irmãos e ela apegou-se a eles. Ao longo da minha vida sofri com a ausência da minha mãe. Ainda hoje, quando ouço alguém falar comn emoção de tudo o que a mãe representou para si, sei que não posso compreendê-lo completamente. O meu corpo mantém a recordação do doloroso vazio que senti na infância.
Cresci, consegui encontrar um equilíbrio emocional, em grande parte graças à ama que tomou conta de mim desde os meus três meses de idade. O seu amor, por vezes desajeitado (só tinha 18 anos) era constante, sincero e deu-me o oxigénio de que precisava no vazio emocional que me preenchia.
Porém, nunca esqueci que, para que lhe obedecesse, ela me recordava frequentemente que, se não me portasse bem, se iria embora. Essas ameaças deixavam-me num estado terrível de impotência e de desespero. Rapidamente aprendi a dar o que se esperava de mim e de um primogénito. Não tinha ataques de mau génio, não fazia birras, mas era disciplinado e preocupava-me com as aparências.
Acho que desempenhei bem o meu papel camuflando os meus sentimentos para manter o meu lugar.
Quando conheci Anna, 30 anos depois, nunca tinha conseguido confiar totalmente numa mulher.
Anticancro - um novo estilo de vida, David Servan-Schreiber
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